Fazia mais de duas gerações que Januário, na versão dele próprio, órfão de nascença, não provava uma côdea de pão. Insalivava-se todo de gula e ruídos do estomago quando chegou diante do senhor Basílio, rico dono de uma padaria; e brincando, por astúcia, de jornalista freelancer, tomou-se de coragem e pediu que lhe oferecessem um pão, em dez mil trezentos e cinquenta, mas foi-lhe, maldosamente, negado. Em desavença com Basílio, o pobre termina ferido por um pão na cabeça e preso. Na prisão, Januário tornou-se no único preso sem direito a pão, não podia ver nem pensar porque o pão era o corpo de delito do seu crime. Porém, Januário fitava dolorosamente, a partir da grade da cela, crianças a irem para a escola, comendo o matabicho pelo caminho e senhoras debaixo de uma frondosa acácia a venderem atrativos alimentos, que ele mal podia olhar.
Categoria | Publicadora | Nº Páginas | ISBN | Dimensão | Ano de Publicação |
Ensaios | Mayamba | 167 | 978-989-761-086-8 | 15,5 x 23 cm |
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